Candidato
Meu compadre Policarpo,
Morador no Boqueirão
Que ainda não tem telefone
E-mail nem televisão,
Me mandou uma cartinha
Escrita de própria mão. Diz ele: Caro compadre,
Este ano é de inleição.
Já se ouve as lenga-lenga,
As conversa e discursão,
De modos que eu to tirando,
Minha própia concrusão. Escolher um presidente,
Merecedor deste posto;
Que não vá enganar o povo,
Nem morrer, nem ser deposto,
Faz um bocado de tempo
Que a gente não tem este gosto. Até agora, esses home,
Só tem nos dado amargura:
Já sofremo com a inflação,
Sofremo com a ditadura
E a tar da corrupção
É uma doença sem cura. Vai daí que o Policarpo,
Pensando com meus botão,
Examinando os recurso,
Por que sim e por que não,
Resorvi ser candidato
Nesta próxima inleição. Prantaforma de governo,
Não tenho, mas ninguém têm;
Tudo que os outros fizerem,
Eu posso fazê também.
A intenção também é a mesma:
Entrar male e sair bem. Igual a todos os outros,
Vou tirar minha casquinha:
Vou criar novos imposto
E aumentar os que já tinha;
Cuidar das famílias pobre
Começando pela minha. Imagina, meu compadre:
Policarpo presidente,
Viajando de avião
Por tudo que é continente,
Beijando as criança pobre
Tão bãozinho e sorridente!… Quando eu entrá no palácio,
Prá assumir a presidência,
Cercado de puxa-saco
Me chamando de incelência,
Vô formar meu ministério
Na base da competência. Minha muié que controla
Meu ordenado mensal
Gosta de contar dinheiro
E acha que eu ganho mal,
Boto ela de presidenta
Do nosso banco central. Tenho um cunhado veiáco
Que tá me devendo horrores;
Vou botar no ministério
De relações exteriores,
Cuidar da dívida externa,
Dar calote nos credores. Aquele amigo que veve
Fazendo maracutáia,
Ganha terra do governo,
Ocupa mas não trabáia,
Esse vai pro Ministério
Que faz a Reforma Agraia. Vai resorve o pobrema,
Ao menos da parentáia. Tenho um compadre bicheiro,
Trapaceiro