caim
Neste livro, a força narrativa do escritor português é mais uma vez manifesta; e quando falo de “força narrativa” me refiro mesmo à forma como Saramago escreve suas histórias, como se dissesse ao leitor: – sente-se aí, acomode-se e agora ouça o que eu tenho para te contar. Então, numa cadeia de eventos correlacionados pela brilhante forma de compor o romance, quem o lê é levado por reflexões e refinadas ironias, como esta: “Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de…”.
Em Caim, o autor passa o primeiro um quarto do livro contando a história de Adão e Eva do Éden até o momento pós-expulsão. A partir daí, a história centra-se em Caim, desde a morte de Abel, até o que seria uma “vingança contra Deus”. Passando em fluxos temporais tragicômicos, Caim interage com personagens bíblicos como: Noé, Abraão, Ló, Jó, Moisés e Josué; além da questionável figura de Lilith, adequando o mito ao contexto.
“A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele”.
Um pouco diferente do que foi apresentado em O Evangelho segundo Jesus Cristo, a figura divina em Caim soa mais como um chefe “atrapalhado”; o que serve bem ao propósito saramaguiano de questionar a tirania divina imposta pelas religiões.
Ao lado de As Intermitências da morte, passarei a indicar este livro a quem deseja começar a ler as obras de José Saramago; por serem rápidos e servirem bem a vários tipos de leitores; desde aqueles que leem para se entreter aos que gostam de ser desafiados a se questionar e pensar; e, sim, também àqueles que gostam das duas coisas juntas.
Deixo um trecho dos mais irônicos do livro, onde um anjo, enviado do