café com vinicius
Nos 100 anos de Vinicius de Moraes, republico a investigação do jornalista Marcelo Bortoloti sobre um episódio até hoje nebuloso: a demissão do poeta, diplomata de carreira, do Itamaraty durante a ditadura militar. O texto foi originalmente publicado em maio deste ano no blog do Instituto Moreira Salles (link aqui).
Para reparar a injustiça, em 2010 o presidente Lula sancionou a lei que concedeu a Vinicius o título de embaixador, em promoção póstuma.
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Por Marcelo Bortoloti*
A expulsão de Vinicius de Moraes do Itamaraty é um episódio que sempre se prestou a especulações e lendas. Pelo menos duas versões podem ser contadas sobre o caso. Na mais folclórica e difundida, o poeta teria sido exonerado através de um memorando em que o presidente Arthur da Costa e Silva o chamava de vagabundo. No livro Chega de saudade, Ruy Castro conta que em fins de 1968 Vinicius recebeu o comunicado mergulhado em sua banheira e caiu em prantos, pois adorava o Itamaraty.
Uma segunda versão, baseada em documentos da ditadura, assegura que ele foi vítima da Comissão de Investigação Sumária, que em 1969 expurgou diplomatas de carreira sob acusação de serem boêmios ou homossexuais. Foi publicada em reportagem do jornal O Globo e também no livro Vinicius de Moraes, produzido pelo Instituto Cultural Cravo Albin. Nesta versão, o algoz do poeta seria o embaixador Antonio Cândido da Câmara Canto, que presidiu a tal comissão inquisidora, e o motivo alegado foi alcoolismo.
Para quem se interessa pelo tema, nos últimos anos essas duas versões ganharam credibilidade diferente. A primeira ficou sendo a mais anedótica, e a segunda a mais séria e correta. Recentemente, tive oportunidade de vasculhar os maços pessoais de Vinicius no Itamaraty, os documentos do SNI no Arquivo Nacional, o fundo das polícias políticas no Arquivo do Estado do Rio e os acervos privados de diplomatas no CPDOC da Fundação Getúlio Vargas.
Sobre o episódio específico não restou