Bresser-pereira - os três ciclos da sociedade e do estado
Luiz Carlos BRESSER-PEREIRA1
RESUMO: A história do Brasil independente pode ser dividida em três ciclos políticos, e, desde 1930, em cinco pactos políticos ou coalizão de classes. Os três primeiros pactos são desenvolvimentistas. Apenas nos anos 1990 as elites brasileiras se renderam à hegemonia neoliberal. Entretanto, desde meados dos anos 2000 o Brasil está recuperando a ideia de nação. O principal argumento desse trabalho é que as elites brasileiras e a sociedade brasileira são “nacional-dependentes”, isto é, são ambíguas e contraditórias, só podendo ser expressas por um oximoro. A elite é dependente porque se vê como “europeia” e seu povo como inferior. Mas o mercado interno é suficientemente grande e o Estado brasileiro suficientemente capaz para levar essa elite a ser nacional. No presente, há uma volta ao desenvolvimentismo, talvez esteja se produzindo uma síntese entre os dois últimos ciclos políticos: entre o ciclo “Nação e desenvolvimento” e o ciclo “Democracia e justiça social”. PALAVRAS-CHAVE: Revolução capitalista. Dependência. Interpretações do Brasil 2. Nacionalismo.
Uma nação e um estado não surgem espontaneamente; são sempre o resultado de uma construção social e política, e de um esforço deliberado, ainda que às vezes pouco coerente, de todos os seus membros. Com a formação do estado-nação e com a revolução industrial, a revolução capitalista se completa em cada país, ao mesmo tempo em que ocorre o desenvolvimento econômico – a elevação persistente dos padrões de vida devido à acumulação de capital com incorporação de progresso técnico – e se afirma o
1 FGV – Fundação Getúlio Vargas. Escola de Economia de São Paulo. Professor emérito. São Paulo – SP – Brasil. 01332-000 – bresserpereira@gmail.com 2
Agradeço a Daniela Theuer Linke, José Jobson do Nascimento Arruda e José Marcio Rego pelos comentários. A responsabilidade pelos argumentos é naturalmente apenas minha.
Perspectivas, São Paulo, v.