Bom Crioulo
www.terra.com.br/virtualbooks
www.terra.com.br/virtualbooks
Bom-crioulo
Adolfo Caminha
Edição especial para distribuição gratuita pela Internet, através da Virtualbooks.
A VirtualBooks gostaria também de receber suas críticas e sugestões.
Sua opinião é muito importante para o aprimoramento de nossas edições: Vbooks02@terra.com.br Estamos à espera do seu e-mail.
www.terra.com.br/virtualbooks
www.terra.com.br/virtualbooks
www.terra.com.br/virtualbooks
Bom-crioulo
1
A velha e gloriosa corveta - que pena! - já nem sequer lembrava o mesmo navio d'outrora, sugestivamente pitoresco, idealmente festivo, como um galera de lenda, branca e leve no mar alto, grimpando serena o corcovo das ondas!...
Estava outra, muito outra com o seu casco negro, com as suas velas encardidas de mofo, sem aquele esplêndido aspecto guerreiro que entusiasmava a gente nos bons tempos de "patescaria". Vista ao longe, na infinita extensão azul, dir-se-ia, agora, a sombra fantástica de um barco aventureiro. Toda ela mudada, a velha carcaça flutuante, desde a brancura límpida e triunfal das velas até a primitiva pintura do bojo. No entanto ela aí vinha - esquife agourento - singrando águas da pátria, quase lúgubre na sua marcha vagarosa; ela aí vinha, não já como uma enorme garça branca flechando a líquida planície, mas lenta, pesada, como se fora um grande morcego apocalíptico de asas abertas sobre o mar...
Havia pouco entrara na região das calmarias: o pano começava a bater frouxo, mole, inchando a cada solavanco, para recair depois, com uma pancada surda e igual, no mesmo abandono sonolento; a viagem tornava-se monótona; a larga superfície do oceano estendia-se muito polida e imóvel sob a irradiação meridional do sol, e a corveta deslizava apenas, tão de leve, tão de leve que mal se lhe percebia o movimento. Nem sinal de vela na linha azul do horizonte, indício algum de criatura humana fora daquele estreito convés: água, somente água em derredor, como se o