boa ventura
Coordenador:
Leôncio Martins Rodrigues (Unicamp/Cedec)
Expositores:
Boaventura de Sousa Santos (Universidade de Coimbra)
Gildo Marçal Brandão (USP)
Luiz Jorge Werneck Vianna (Iuperj)
SEIS RAZÕES PARA PENSAR
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS
É um prazer enorme estar aqui, voltar aqui e fazê-lo nestas circunstâncias da celebração dos 25 anos do CEDEC, instituição que me habituei a respeitar há muitos anos, a admirar, a seguir e a colaborar na medida do possível, nos seus trabalhos e na sua revista, uma revista de resistência, de criatividade, de pensamento crítico sobre o Brasil. Por todas estas razões eu não poderia faltar à chamada que a Amélia fez e aqui estou, com todo gosto, pois.
Evidente que eu tenho aquele mínimo de decoro que se espera que um professor universitário tenha, de não pensar o Brasil no meio de colegas tão insignes, tão ilustres, que eu tanto admiro . Mas é evidente que a questão que me foi posta para esta ação é uma questão mais ampla sobre as razões para pensar sobre as sociedades contemporâneas. É uma questão realmente importante porque é desarmantemente simples. É fácil formular a pergunta, ainda que não seja fácil respondê-la. Costumo dizer que paradoxalmente é nos períodos de transição paradigmática que as perguntas simples fazem mais sentido. A complexidade destes períodos reside precisamente na nossa dificuldade em nomeá-los. E porque não sabemos nomeá-los falamos de períodos de transição. O curioso é que a complexidade, para ser desvelada, tem de ser interpelada de maneira simples. Acho que as questões simples são aquelas que, por serem desarmantemente transparentes, permitem ver melhor qual é a problemática dominante do nosso tempo.
O meu exemplo é sempre o de Rousseau, que em meados do século XVIII pôs aquela questão muito simples, muito importante na altura em que a ciência começava a ser o grande motor do desenvolvimento econômico, político e cultural: a questão de saber se a ciência