Bjgvjn
750 palavras
3 páginas
Se estou só, quero não estar,Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou.
Ser feliz é ser aquele.
E aquele não é feliz,
Porque pensa dentro dele
E não dentro do que eu quis.
A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não fizer,
Fica perdido na estrada.
O poema "Ser Aquele" é um poema ortónimo tardio de Fernando Pessoa, datado de 2/7/1931.
Este poema foi música recentemente por Camané e é por isso mesmo curioso porventura ligar este poema a uma outra modernidade, recordando mais especificamente a canção "Estou além" de António Variações, que a certo ponto diz:
Estou bem
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não vou
Comparemos essa estrofe, com a primeira estrofe do poema de Pessoa:
Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou.
Os dois poemas, de Variações e de Pessoa falam de um mesmo estado de espírito. Da insatisfação permanente com as coisas, seja com a definição ou com a indefinição da vida. Nunca estar contente é também um sentimento de medo em relação à realidade, é um medo profundo de confiar, de saber estar-se seguro com alguma coisa.
Sabemos que a psique de Pessoa é marcada por uma inconstância que lhe advém da sua infância. Desde pequeno que ele se habituou à mudança - a mudança de casa quando o pai morreu, à mudança para a África do Sul (a Grande Mudança), à mudança novamente para Lisboa, dentro de Lisboa a mudança de empregos, a mudança constante de casas... a instabilidade é o único grande fio condutor da vida de Fernando Pessoa.
E só quem conhece a instabilidade constante tem esse medo constante da estabilidade. É esse medo que justifica a indecisão entre escolher estar só ou escolher estar com alguém - as duas condições são aceites, porque se aceita que a única realidade é a realidade instável, que é ela mesma composta de opostos em constante mudança.
"Querer estar