Qual é a responsabilidade do pregador e do ouvinte na disseminação da palavra de Deus? Vieira, em seu Sermão da Sexagésima, discorre a respeito da arte da persuasão e os motivos pelos quais a Igreja Católica não atinge mais tão bem a população. Pe. Viera, a partir do uso da metalinguagem, conta em seu sermão como se faz uma boa pregação. Ele lança questões para que os fieis reflitam e ao longo do discurso lança as respostas – todas elas imbuídas de sua ideologia – e faz associações com a Parábola do semeador. Ele põe em xeque de quem é a culpa de a palavra de Deus não gerar mais frutos como antes. A partir da ironia, Vieira convence o leitor de que nada falta por parte de Deus e que os ouvintes não são os culpados, pois se os fossem a palavra nunca daria fruto algum. Logo percebe-se que o sermão gira em torno das falhas dos sacerdotes em pregar. O primeiro equívoco de certos pregadores é apoiar-se em mais de uma matéria (assunto). Em vez de falar a palavra de Deus, fala palavras Dele, recita em vez de pregar. Vieira até associa isso, mais uma vez, ao ato de plantar. Uma semente plantada em cima da outra não gera belos frutos, mas uma “mata brava, uma confusão verde”. A palavra de Deus é tão poderosa empregada no sentido que Ele as disse e não como os pregadores a falam – interpretando-as de acordo com seus interesses próprios. E, se perde-se essa palavra, não pode haver os frutos dela e, então, chega a crise. Apesar de ser clara a intenção de Vieira, ele a mostra de maneira suave e não agressiva, de modo a convencer o leitor sutilmente de suas idéias e não causar de imediato revolta. António Vieira tem o dom da persuasão, da retórica – constrói um discurso perfeito católico, cheio de críticas e com um beleza literária apreciada ainda quatrocentos anos depois.
O poema “Queixa-se da Bahia por seu bastante procurador, confessando que as culpas, que lhe increpam, não são suas, mas sim dos viciosos moradores que em si alverga” de Gregório de Matos Guerra