Bacharel
Aspectos do documentário brasileiro contemporâneo, por Consuelo Lins e Cláudia Mesquita
O final da década de 90 é especialmente marcante para o documentário brasileiro: a produção de filmes está em franco crescimento, alguns títulos chegam à tela grande, o interesse de público e crítica é cada vez maior. Três filmes se destacam em 1999: Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Marcelo Masagão, que atinge um público de quase 59 mil espectadores; Santo Forte, de Eduardo Coutinho, que chega a quase 19 mil; e Notícias de uma Guerra Particular, de João Salles, exibido em vários festivais e em um canal de televisão a cabo, com grande repercussão. São filmes esteticamente distintos que expõem maneiras diversas de abordar temas e personagens. Cada um deles evidencia, de modo particular e emblemático, questões que perpassam toda a produção documental. O quadro é sem dúvida rico e promissor. O que o terá preparado?
Diferentemente do cinema brasileiro de ficção, a produção documental não “sucumbiu” à crise que marcou a passagem dos anos 80 para os 90, com a extinção da Embrafilme, estatal produtora e distribuidora de cinema, pelo governo Collor de Mello. Na trilha iniciada nos anos 80, seguiu seu destino de gênero “menor”: realizado sobretudo em vídeo, mantendo fortes ligações com os movimentos sociais, com pouca visibilidade fora do circuito restrito de festivais, associações, sindicatos, TVs comunitárias. A situação se modifica razoavelmente a partir da “retomada” do cinema brasileiro, por vários motivos. A prática documental ganha impulso, primeiramente, com o barateamento e a disseminação do processo de feitura dos filmes em função das câmeras digitais e, especialmente, da montagem em equipamento não-linear.
Por outro lado, há estímulo objetivo à produção, a partir de meados dos anos 90, através de uma legislação de incentivo ancorada em mecanismos de renúncia fiscal, que atrai patrocinadores privados -