As principais características da ironia socrática nos diálogos abstratos
Kierkegaard aparece em um período da história da filosofia muito interessante, após Hegel e o seu sistema surge seus contestadores, e Kierkegaard está neste seleto grupo. Percebemos que Hegel foi um grande estudioso da antiguidade grega, ele pesquisou exaustivamente aqueles que são considerados os “inventores” ou fundadores da filosofia ocidental. Desse modo Kierkegaard também procura investigar, fazer uma análise dos gregos do período clássico, e se detém de forma especial em Sócrates, este considerado o divisor de águas do pensamento ocidental, e o nosso filósofo percebe que o que chegou até nós a respeito de Sócrates, já que este nada escreveu, está cheio de, para usar uma palavra moderna, ideologia, isto é, os autores que escreveram a respeito de Sócrates geralmente fazem com que se destaquem nele as características que eles querem que se destaquem. Assim, ou Sócrates é visto como um sábio, um portador da verdade, ou então é visto como inofensivo, inoperante, tolo. O objetivo de Kierkegaard é encontrar o Sócrates real. O interesse de Kierkegaard não é tanto pelos pressupostos, mas sim pela postura que se tem quando se adota uma determinada concepção de mundo, por isso para o nosso filósofo a filosofia é muito mais que um emaranhado de conceitos, é muito mais que uma concepção de mundo, filosofia é postura, é modo de vida, neste sentido é compromisso com a concepção de mundo adotada. A pergunta por Sócrates é a pergunta pelo seu modo de vida, pelo que ele representou na sociedade de sua época, é a pergunta pelo que ele viveu e como viveu. Podemos de início afirmar que Sócrates viveu ironicamente, viver socraticamente é viver ironicamente, a pergunta por Sócrates é a pergunta pela ironia, Sócrates foi um irônico. Devemos antes dizer de onde veio tal análise. Quando em Sócrates lembramos logo daquele que foi seu discípulo, e que mais escreveu colocando Sócrates em seus escritos,