as mulheres antes do 25 de abril 1974
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Não se pode negar que, antes do 25 de Abril de 1974, sobretudo no período em que António Oliveira Salazar foi chefe do governo de Portugal, se procurou apostar numa educação que limitava à mulher a sua capacidade de intervenção social, com a pretensão de a reduzir ao desempenho dos papéis de mãe, esposa e dona de casa. Para tal muito contribuíram, em primeiro lugar, a mentalidade provinciana e agrária de Oliveira Salazar e, em segundo lugar, as instituições e os órgãos de comunicação social que o seu regime promoveu. Salazar, nesses tempos, escreveu pelo seu próprio punho “o lugar da mulher é no seu papel essencialmente familiar, como mãe, esposa, irmã ou filha de todos os que somos em Portugal” e ”o trabalho da mulher fora do lar desagrega este, separa os membros da família, torna-os um pouco estranhos uns aos outros”. A revista “Menina e Moça”, revista da mocidade portuguesa feminina, teve um papel importante nessa altura para a formação de um tipo de mulher caseira e submissa ao marido, defendendo pontos de vista como “a mulher ocupada a sério com a sua casa não tem tempo, nem paciências para se entreter com a vida alheia” (MM, 1961, 157) e seria o fim do mundo “a não haver uma dona de casa”, sem “o contacto com a família”, conviver-se-ia “com muita gente mal formada, mal-educada, pervertida” e depararia “com uma vida fútil e superficial, (...) arrastada pelas tentações do luxo e das despesas, e pelas relações de acaso.” (MM, 1962, 176). O regime republicano, implantado em Portugal em 5 de Outubro de 1910, visava transformar a sociedade, acabando com um sistema baseado no poder, mesmo quando simbólico, de um rei e dos círculos a ele ligados, substituindo-os por um sistema baseado numa comunidade de cidadãos. Um dos horizontes dizia respeito às mulheres, pois alguns republicanos, embora em número muito reduzido, reconheciam que a situação das mulheres era injusta e degradante. Mas a sua motivação principal não seria, na realidade, a condição