Artigo Carlos lessa100506
977 palavras
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Petrobras, soberania e geopolíticaCarlos Lessa
Parabéns ao presidente Lula por sua declaração. Confirmou a única dimensão de seu governo consistente com o programa original do PT: a política externa. Qualquer ensaio de truculência seria jogar uma pá de cal sobre o sonho da integração sulamericana. O Brasil seria, para os vizinhos, uma potência subimperialista.
A nota destoante é o anúncio que a Petrobras irá recorrer à Justiça Internacional, com sede em Nova York, contra o decreto presidencial boliviano. A medida será tomada porque a Petrobras é uma empresa "no mercado", com ações na Bolsa de Valores de
Nova York e, como terá perdas, "deve satisfação aos seus acionistas". Ao se alinhar aos padrões de comportamento do mercado de valores internacional, a Petrobras cancela, em parte, o mérito geopolítico da declaração do governo brasileiro. A Petrobras está mais preocupada em atender aos especuladores da Bolsa de NY do que atuar como instituição do Estado nacional brasileiro. Esta é a visão neoliberal: por esta doutrina, a Petrobras é uma petroleira como as outras; deve competir em nível mundial. Seu desempenho é medido pelo valor bursátil de suas ADR e pelos dividendos que distribui.
Petróleo não é commodity. É o combustível dos motores a explosão. Tem milhares de subprodutos. Constitui o pilar das estruturas de produção e é basilar do padrão de vida das economias modernas. Por isto é recurso estratégico que orienta, por excelência, a geopolítica das potências. Estados Unidos, Japão, União Européia e China não têm petróleo suficiente para suas respectivas economias. O desequilíbrio americano é brutal; consome quase um terço do petróleo do mundo e é incapaz de produzir sequer a metade do que consome. O cenário futuro é pior, pois a curva de descobertas de petróleo tem caminhado, nos últimos 20 anos, cada vez mais abaixo da curva de consumo mundial. A geopolítica do império americano é referenciada ao petróleo. Por isso está, armado, no
Iraque; por isso apóia a