Argentina: uma história a ser superada
UMA HISTÓRIA A SER SUPERADA
Franklin Trein
Novembro de 2008
1. INTRODUÇÃO
As muitas crises em que se encontrou a Argentina conduziram, freqüentemente, a busca de entendimento de sua realidade através do exame dos problemas de sua economia. Tarefa válida, em princípio, até porque ela é indispensável para que se chegue a uma correta avaliação das dimensões da catástrofe social que se abateu sobre sua sociedade. Porém, não suficiente. Sua crise econômica foi mais conseqüência do que causa. Esta é a tese que pretendo alinhavar a seguir.
Em se tratando da Argentina, pela riqueza de sua história o objeto de análise é particularmente complexo e em poucas palavras não será possível reconstruir uma demonstração no sentido pleno do termo. Farei breves referências a fatores que, a meu juízo, permitem entender como a situação da Argentina foi resultado tanto de condicionantes externos como, internamente, decorreram de opções assumidas por suas forças majoritárias, exatamente aquelas que vêm marcando sua história desde os tempos coloniais.
2. O PASSADO
A nação argentina é resultado do trabalho de construção dos imigrantes europeus, principalmente, espanhóis e italianos, que ali chegaram em números expressivos entre 1870 e 1950. Porém sua história começou muito antes. Desde o início da conquista das terras americanas pelos ibéricos, ainda no início do século XVI, quando os europeus ali aportados eram quase que exclusivamente espanhóis, se cumpriu em território argentino sempre um mesmo propósito: destruir as sociedades humanas pré-colombianas como parte da obra de construção de uma nova civilização. Os primeiros colonizadores enfrentaram grandes resistências por parte dos habitantes daquelas terras, mas era indispensável “limpar o terreno”. Nas lutas entre europeus e índios a primeira vítima, digna de registro histórico, foi Juan Díaz de Solís, descobridor do rio da Prata. Díaz de Sólis foi morto em uma emboscada pelos índios da região em 1516.