Análise do poema “Devagar, devagar...”, de Alphonsus de Guimaraens
No poema de Alphonsus de Guimaraens notamos uma presença mística, sua poesia expressa uma atitude melancólica sobre o tema morte. O sentimento resignado, o sofrimento e a desesperança estão presentes em seus versos. Esse soneto apresenta uma estrutura clássica, e explora o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e da não adaptação ao mundo. Contudo, notamos um sentimento de aceitação e resignação diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. Guimaraens fez parte do grupo simbolista.
O poema é dotado de musicalidade — não aquela habitualmente cultivada pelos simbolistas, com seus efeitos sinestésicos e sensualizantes, mas essa música atemporal é uma música que fala a morte, que usa a repetição para descrevê-la. Esse poema possui uma atmosfera densa e pesada, remete sempre à morte, ela que nos é apresentada como “alma senil”, ela é descrita no primeiro quarteto, há uma personificação da morte, que é “escura devesa”, e não permite, com a sua presença, que nenhuma estrela brilhe.
No segundo quarteto, obsevamos a aceitação da morte, a falta, a decepção amorosa e o sofrimento levam o sujeito a se resignar frente à morte, ela parece ser a única opção. Diante desse destino certo, com a falta de amor e excesso de sofrimento, o sujeito é uma pobre criança indefesa, não tem o que fazer, pois o homem é um “cadáver adiado que procria”.
Já primeiro tercetos há, mais uma vez, a presença do tema morte, ela que sonda e atormenta os pensamentos do sujeito, ela que nem a lua, tradicionalmente como elemento romântico, é capaz de “acalmar” o fim da vida. Parece-nos uma busca sublimada por alguém, e essa busca se dá entre o luar e as sombras, o amor e a morte. No último terceto, o sujeito já conhece o seu destino e sabe que ele está próximo, se ampara em mãos frias: “Ampara-te na mão que, entre gelos, te estendo.”, aguardando contrito, arrependido a extrema-unção, e com “mais tristeza, vai morrendo.”.