Análise do curta Eletrodoméstica
Dirigido por Kléber Mendonça Filho e premiado mundialmente, o curta-metragem Eletrodoméstica expõe a relação de uma dona-de-casa com sua residência e seus eletrodomésticos.
A música de Wander Wildner, Eu queria morar em Beverly Hills, inicia o curta como som não-diegético enquanto observamos, numa série de planos gerais, uma vizinhança normal do subúrbio de Recife – bem longe de parecer com a cidade americana citada na canção. Antes de mostrar nossa protagonista, o diretor começa a elevar a altura da câmera e insere duas cenas com plano plongée, a fim de localizar nossa protagonista geograficamente. Quando ela aparece, a música para com um som de rádio desligando. Com isso, o diretor começa a apresentar traços da personalidade da protagonista, já criando uma associação entre ela e objetos eletrônicos.
Fumamos junto com ela e observamos a vizinhança em câmera subjetiva por alguns momentos. A música serena, extradiegética, que acompanha a cena passa a sensação de que esse é um momento de descanso para ela. Isso é reforçado pelo fato de ela começar a trabalhar sem parar logo depois.
Multiação
A mulher eletrodoméstica começa a se pronunciar quando o ciclo de lavagem se inicia. Ela cronometra o tempo e começa a desempenhar algumas funções na casa ininterruptamente. Quando está indo em direção à sala, temos um corte seco para televisão. Porém, há um movimento no que está sendo exibido na TV que dialoga com o movimento da própria protagonista. Logo depois, há um corte para sua filha intermediado por um raccord de olhar.
Quando chega à cozinha, põe o frango pra esquentar – no micro-ondas – e vai parar a bagunça que está ocorrendo na sala. Nessa cena, temos algumas cenas em travelling envolvendo o carro de brinquedo. A mãe é visualizada sempre em contra-plongée e os filhos em plongée, afirmando os papéis de autoridade. Ela recebe uma ligação de uns entregadores, porque adquiriu mais um aparelho eletrônico, no caso uma TV – forma de ilustrar seu