Análise de excerto de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” sob a óptica da lógica
“Vais compreender que eu só te disse a verdade. Pascal é um dos meus avôs espirituais; e, conquanto a minha filosofia valha mais que a dele, não posso negar que era um grande homem. Ora, que diz ele nesta página? -- E, chapéu na cabeça, bengala sobraçada, apontava o lugar com o dedo. -- Que diz ele? Diz que o homem tem «uma grande vantagem sobre o resto do universo: sabe que morre, ao passo que o universo ignora-o absolutamente». Vês? Logo, o homem que disputa o osso a um cão tem sobre este a grande vantagem de saber que tem fome; e é isto que torna grandiosa a luta, como eu dizia. «Sabe que morre» é uma expressão profunda; creio todavia que é mais profunda a minha expressão: sabe que tem fome. Porquanto, o fato da morte limita, por assim dizer, o entendimento humano; a consciência da extinção dura um breve instante e acaba para nunca mais, ao passo que a fome tem a vantagem de voltar, de prolongar o estado consciente. Parece-me (se não vai nisso alguma imodéstia), que a fórmula de Pascal é inferior à minha, sem todavia deixar de ser um grande pensamento, e Pascal um grande homem.” (ASSIS, Joaquim Maria Machado de, Memórias póstumas de Brás Cubas A fala acima é de Quincas Borba, personagem coadjuvante do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. O próprio Quincas foi, após este, tema e nomeador de outro livro do mesmo autor. O personagem é o criador do Humanitismo, uma nova filosofia que colocaria todas as outras por terra. É notável que diversos princípios desta filosofia sejam controversos e falaciosos (como no excerto acima, o que será demonstrado neste artigo) e, por conta disto, a crítica literária brasileira moderna a considera uma paródia das idéias científicas divulgadas no século XIX, como o positivismo de Augusto Comte e o evolucionismo e a seleção natural de Charles Darwin. Antônio Cândido (1995), já mencionava que “a essência do pensamento machadiano é a transformação do homem em objeto do