analise critica_francisca

5273 palavras 22 páginas
O poeta Daniel amava em Francisca tudo: o coração, a beleza, a mocidade, a inocência e até o nome. Até o nome! De mim digo que acho razão em Daniel. Não julguemos este nome de Francisca pelo uso e abuso que dele se faz; mas pela harmonia e doçura daquelas três sílabas, tão bem ligadas, tão amorosamente doces.
Daniel amava até o nome. Tinha nela o ideal da felicidade doméstica que se preparava a conquistar mediante as fórmulas sagradas do matrimônio.
O amor nasceu naqueles dois corações como a flor em planta que está de vez. Pareceu coisa escrita no livro dos destinos. Viram-se e amaram-se: o amor que os tomou foi um desses amores profundos e violentos a que nada resiste: um destes amores que fazem supor a existência de um sistema em que duas almas descem a este mundo, já predestinadas a viverem de si e entre si.
Ora, Francisca, no tempo em que Daniel a viu pela primeira vez, era um tipo de beleza cândida e inocente de que a história e a literatura nos dão o exemplo em Ruth, Virgínia e Ofélia; a pureza exterior denunciava a pureza interior; lia-se-lhe na alma através dos olhos límpidos e sinceros; uma sensibilidade sem pieguices, uma modéstia sem afetação, tudo o que a natureza, que ainda se não perverteu, pode oferecer ao coração e aos olhos de um poeta, tudo existia na amada do poeta Daniel.
Se aquelas duas existências se unissem logo, se consolidassem desde o princípio o sentimento que por tanto tempo os estremeceu, era certo que a mais perfeita união moral os levaria até os mais longos anos, sem perturbação de natureza alguma.
Mas não foi possível isto. As fortunas eram desiguais, mesmo muito desiguais, visto como se Francisca possuía um dote quase principesco, Daniel possuía apenas o coração, o talento e a virtude, três unidades sem valor em matérias matrimoniais.
O pai de Francisca opôs logo a objeção da fortuna ao amor da pobre menina, e esta comunicou as palavras do pai a Daniel. Foi uma noite de lágrimas. A idéia de fugirem para um ermo em que

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