Ana Carolina Mazzotini

6001 palavras 25 páginas
U
NIVERSIDADE DE S
ÃO
P
AULO
F
ACULDADE DE
F
ILOSOFIA,
L
ETRAS E
C
IÊNCIAS H
UMANAS

O grito voraz de uma terra silenciada
Resenha crítica do livro
A Confissão da Leoa
, de Mia Couto

Ana Carolina Stanger Martins Mazzotini
Nº USP: 7551658

D
ISCIPLINA:

FLH0649 ­ H
ISTÓRIA DA
Á
FRICA
D
OCENTE:
L
EILA M
ARIA
G. L
EITE
HE
RNANDEZ

F
EVEREIRO DE 2015 1

Í
NDICE

1.

Um enredo de oposições, contradições e dilemas

p. 03

Análise da escrita: escolhas narrativas de Mia Couto

p. 04

Múltiplas faces da ordem e do caos

p. 07

a.

O lugar da mulher

p. 08

b.

Poder, política e dominação

p. 10

2. 3.

4.

Algumas pistas conclusivas

p. 15

Referências Bibliográficas

p. 16

5.

2

1.

Um enredo de oposições, contradições e dilemas
A novela “A Confissão da Leoa” aborda, através de duas vozes narrativas alternadas, a

crise que se instaura na aldeia fictícia de Kulumani, no norte de Moçambique, mediante a vitimação de dezenas de mulheres por sucessivos ataques de leões. A administração enfrenta essa ameaça política selvagem enviando de Maputo a curiosa dupla formada pelo narrador Arcanjo
Baleiro, distinto caçador responsável por exterminar as feras, Gustavo Regalo, escritor incumbido de registrar os feitos da viagem. A “segunda” narração dos fatos é feita na voz de Mariamar, mulher nativa de Kulumani cuja irmã Silência foi a última vítima dos ataques.
Ao narrarem o processo da caçada e o debate que a aclimata, tanto uma quanto outro narrador desvelam uma série de oposições que orientam e constrangem todo o meio social no qual estão inseridos; nas respectivas famílias, em Kulumani, e nas relações com outros poderes ­ administrativos, políticos e ancestrais. Podemos destacar os contrastes hierarquizantes entre

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