amor
João do Rio
Na obra de João do Rio, a cidade não é simples espaço ou cenário de transformações. Ela é capital – a capital federal – representação babélica e monumental da ideologia republicana no auge de seu poder. Assim sendo, nessa sua cenografia moderna, a rua define a abertura, não só simbólica mas física, em perspectiva, de corredores flanqueados por edifício laterais, cujas fachadas, a rigor, não mais delimitam volumes fechados e particulares (os do casarão ou palacete) mas superfícies que, aos poucos, circunscrevem espaços vazios e abertos. Esses ambientes, coletivos e públicos, tão bem retratados pelas fotos de Marc Ferrez, armam-se, em última análise, por uma sucessão de janelas, o que projeta a intervenção urbanística do prefeito Pereira Passos em um plano regular e uniforme, o de transformar a cidade colonial portuguesa na capital do presente, construída à imagem e semelhança da capital do século, Paris. Porém, esse traço não obedece apenas a uma lógica interna; ele é, combinadamente, universal e nacional. A janela define a rua que, por sua vez, define o Rio como pequena Paris mas, em compensação, é o estilo do boulevard o que torna Cosmópolis uma autêntica cidade, conferindo-lhe, em suma, identidade local inconfundível. Pondera, assim, João do Rio, em uma de suas crônicas:
O carioca vive à janela. Você tem razão. Não é uma certa classe; são todas as classes. Já em tempos tive vontade de escrever um livro notável sobre o “lugar da janela na civilização carioca”, e então passeei a cidade com a preocupação da janela. É de assustar. Há um bairro elegante, o único em que há menos gente às janelas. Mesmo assim, em trinta por cento das casas nas ruas mais caras, mais cheias de villas em amplos parques, haverá desde manhã cedo gente às janelas. Na mediania burguesa desse mesmo bairro: casas de comerciantes, de empregados públicos, de militares, vive-se à janela. Nos outros bairros, em qualquer é o mesmo, ou antes,