Ambiente alfabetizador
Cuidar da aprendizagem
Professor não é quem dá aula. "Dar aula" tomou-se expressão vulgar para mera reprodução de conhecimento, reduzindo-se a procedimento transmissivo de caráter instrucionista. Embora "aula" não precise ser rebaixada a só isso, carrega o estigma secular de repasse reprodutivo de conhecimento alheio. Se for para apenas reproduzir conhecimento, temos hoje meios mais interessantes disponíveis, como a parafernália eletrônica, que tem a vantagem de poder ser ao vivo e em cores, com efeitos especiais, conduzida por gente bonita e jovem. Por isso, é fundamental redefinir o professor como quem cuida da aprendizagem dos alunos, tomando o termo "cuidar" em seu sentido forte, como propõe Boff (l999). Saber cuidar significa dedicação envolvente e contagiante, compromisso ético e técnico, habilidade sensível e sempre renovada de suporte do aluno, incluindo-se aí a rota de construção da autonomia. Assim procede toda mãe: cuida intensamente de seu filho, exerce sobre ele influência decisiva, mas investe tudo na sua emancipação. Trata-se do cuidado que não abafa, afoga, tutela, mas liberta, colocando o professor não como dono ou capataz do processo, mas como mentor socrático ou maiêutico. Recupera-se com esta idéia algo que é tão antigo quanto a humanidade: educar é processo de dentro para fora, como asseverava Sócrates, quando insistia na instigação do professor para promover a emancipação dos alunos. O professor não se torna descartável. Muito ao contrário, assim como os pais jamais o são descartáveis, o professor é figura decisiva do processo de aprendizagem, ocupando, entretanto, lugar de apoio e motivação, orientação e avaliação, não o centro do cenário. Este centro é do aluno; o professor não pode pensar, pesquisar, elaborar, fundamentar, argumentar, ler pelo aluno. Está na biologia humana que as novas gerações precisam de todo cuidado da geração anterior,