Alessandro de Giorgi - A Miséria Governada Através do Sistema Penal - Coleção Pensamento Criminológico - Volume 12 - Ano 2006

1364 palavras 6 páginas
de modo um tanto anárquico e irracional, e o deslocamento dos futuros operá­ rios do campo para as cidades não é nem automático nem indolor, provocan­ do fenômenos de inserção de alguns dos novos que chegam no interior dos mercados do chamado “ilícito” (que, por outro lado, faz parte daquele mer­ cado “efetuai” , no interior do qual também se necessita de mão-de-obra, como ocorre hoje na Itália com a droga e a prostituição), e igualmente de rejeição e de hostilidade da parte dos estratos sociais, também operários, precedentes. Por conseguinte, o excremento, a classe perigosa, a underclass será encerrada (e “cultivada”) no interior de um sistema carcerário que, reencontrando seus próprios hóspedes preferidos de sempre - ex-campone­ ses que se dirigem à cidade, mesmo que a sua cor, a sua língua ou a sua religião sejam agora diferentes - , se sentirá renascer, reconhecendo nos no­ vos recém-chegados os próprios “eternos hóspedes”, por assim dizer a linfa vital da qual o sistema se nutre (não obstante a ingenuidade ocasional de um ou outro magistrado que, tomando ao pé da letra a forma do direito, tentou enviar para a prisão, nesse meio tempo, hóspedes por assim dizer “inespera­ dos” , mas isso acabou não dando certo!). Porém, como já acontecera no passado com aqueles velhos operários (e os seus pais e os seus avós), que agora maldizem a “incivilidade” dos recém-chegados, assim também estes últimos crescerão juntamente com o tipo de desenvolvimento em que foram imersos e encontrarão, de acordo com formas solidárias e organizativas, o modo de considerar a si mesmos, e a outros como eles, não mais como excremento mas como seres humanos, e daí a pouco também como seres humanos dotados de um certo poder. Como dizia uma palavra de ordem que circulava entremos trabalhadores da província de Reggio Emilia, há cerca de um século atrás, “unidos somos . tudo/divididos somos canalha”33. Para que tal

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