Adm noturno
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Há muito se vê por aí aquela historinha do copo com água pela metade, com dois bobos muito pretensiosos ao lado, dizendo se ele está meio cheio ou meio vazio, conforme as perspectivas otimistas ou pessimistas de cada um. História a qual nunca dei muito crédito, uma vez que, seja lá como for a idéia de cada um, um copo com água é para ser bebido, não para ponderações filosóficas.
No entanto, sempre me considerei um pessimista. E, mais ainda, considero o pessimismo de possuidor de uma lógica muito tentadora. Ora, ter por inevitáveis futuras pequenas grandes catástrofes é uma forma de fazer um seguro emocional contra a frustração. Portanto, muito sábio mesmo ser um pessimista e só ter boas surpresas na vida. Tudo de ruim torna-se um mero “eu já sabia”.
Mas, por rigor acadêmico, deve-se diferenciar o pessimista do prevenido.
O indivíduo se prepara para viajar e coloca quatro estepes no porta-malas, como precaução de enfrentamento com crateras lunares asfálticas. Eis o prevenido.
O pessimista é pessoa muito mais sábia. Ele nem viaja porque já espera, além do pneu furado, a quebra na barra de suspensão. E o engarrafamento. E a chuva na praia. E trinta e cinco multas por excesso de velocidade, mesmo no engarrafamento. E, esperando na volta, a casa arrombada, quase vazia (as multas aguardam no chão da sala).
No entanto, antes de passar o leitor imaginário a iniciar um manifesto otimista, parênteses devem ser abertos para destacar que as pessoas cheias de cristais energéticos, ervas de bom olhado e amuletos de pelos de lhama, quando falam sobre a força do “pensamento positivo” tornam ainda mais convidativa a vontade de ser um pessimista rabugento.
Então, não se diga que pessimismo ou otimismo são apenas a formas de olhar um copo d’água. Pessimismo é o patuá de quem não acredita em amuletos. No fim, a expectativa é a mãe de toda decepção. Mas, nada impede que, se por completo acaso