ACRITICA SARTRE Ivo
A abordagem do existencialismo por parte do “marxismo oficial” serviu para encobrir a visão das possibilidades de aproximação entre as duas concepções. O chamado “marxismo oficial”, na verdade um pseudomarxismo, vai realizar uma análise bastante preconceituosa do existencialismo e não precisamos lembrar que os preconceitos estão intimamente ligados aos valores e interesses sociais. A transformação do marxismo em ideologia nacional da Rússia, por exemplo, erigiu um conjunto de preconceitos que dificulta uma apreciação correta e aprofundada de vários fenômenos (Korsch, 1977; Viana, 2007). O chamado “marxismo-leninismo”, devido aos interesses nacionais e de classe que ele representava, condenou um conjunto de concepções como sendo “ideologias burguesas” ou “pequeno-burguesas”, e entre elas o existencialismo.
A abordagem pretensamente marxista do existencialismo foi realizada por diversos pensadores, mas as mais influentes foram as de Georg Lukács e Adam Schaff. Georg Lukács irá combater ferrenhamente o existencialismo (o de Heidegger, Jaspers, Merleau-Ponty, Sartre e Beauvoir). Para este autor, o existencialismo é uma filosofia da pequena burguesia intelectualizada e Sartre não escapa disso. Ele relaciona O Ser e o Nada com o momento histórico do fascismo, que, segundo ele, traz o desejo de liberdade. O existencialismo sartreano é um “reflexo fiel do clima espiritual da época”. Outra colocação de Lukács deixa claro qual é o ponto de vista que parte para criticar Sartre: “O existencialismo recusa-se a atribuir um papel decisivo, na gênese das decisões dos homens, às opiniões e às idéias, em uma palavra, aos reflexos da realidade objetiva na consciência humana” (Lukács, 1979, p. 90).
A crítica lukácsiana de Sartre tem como fundamento a chamada “teoria do reflexo” de Lênin, segundo a qual o conhecimento é mero reflexo da realidade objetiva. Aliás, ele dedica o último capítulo do seu livro justamente à teoria do conhecimento de Lênin. Esta posição,