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1 - Paulo Freire e a educação pela vida
O que será que levou Paulo Freire a elaborar um trabalho pedagógico, inédito, voltado para as massas sofridas? Voltei às origens de sua vida, tentando conhecê-lo melhor, trazendo da sua infância um momento onde: amor, afeto, diálogo, troca, responsabilidade, estão aliados à alfabetização e à leitura, ali no quintal onde brincava, com gravetos na terra, à sombra da mangueira, aprendeu a ler com sua mãe. A intersubjetividade, o carinho, o diálogo, que nasciam ao lado da mãe; a leitura a partir do seu espaço, são marcas afetivas que podem o ter levado a perceber o momento de cumplicidade da alfabetização. Algo tão íntimo pode o ter levado a alcançar algo universal – a leitura. Da sua primeira escola também, ficaram boas recordações. Estas marcas vão influenciá-lo a elaborar seu trabalho, como ele mesmo confessou:
“Minha prática dialógica com meus pais me preparara para continuar a vivê -la com meus alunos” (Freire, 1997:83) .
Viveu também a pobreza e, através do estudo, da humildade, da coerência, da responsabilidade, da solidariedade de outros, que acreditaram nele e permitiram que o seu potencial emergisse, conseguindo superá-la.
Entre outras profissões escolheu ser professor e doou para a população carente, através da educação, o que a vida lhe havia oportunizado. Santo? Mito? Apenas um professor brasileiro, atento às necessidades vitais, competente e coerente com o seu tempo.
A obra de Paulo Freire, assim como a obra de todo bom herói, é um desses fenômenos de forte apelo mítico. De tão bem que ele desencantou o mundo, encantou-se, e nos fez encantarmo-nos com ele. Sua obra e sua figura pessoal encontram-se, pois, intensamente cercadas de uma aura. Isso não é surpreendente. Isso veio sendo construído ao longo de sua vida profissional, e se acentuou à medida que envelhecia. O fundamento político dessa construção foi sua condição de patriota vitimado, que