Aarquiteturaeseucombate
5716 palavras
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A arquitetura e seu combate/Carlos Antônio Leite Brandão Introdução
Pretendo, aqui, promover a arquitetura enquanto instrumento fundamental para a construção, mais do que de edifícios e cidades, de "uma vida melhor e mais feliz", bene beateque vivendum, como diziam os arquitetos do Renascimento italiano. Afirmar ser a Arquitetura instrumento para a construção de "uma vida melhor e mais feliz" não é uma frase banal. Ao contrário, é uma frase polêmica e o lema de um combate aguerrido e contemporâneo que tem como propósito restituir à nossa profissão seu sentido social, seu significado poético e sua valência ética, mais do que artística ou estética. E é o desenvolvimento dessa valência ética que acredito ser o conteúdo disciplinar mais importante a ser desenvolvido por um curso de arquitetura. O estudo da história e da teoria da arquitetura, o desenvolvimento dos projetos nos diversos planejamentos que os alunos deverão cursar, o aprendizado de estruturas, materiais, técnicas e procedimentos compositivos dos edifícios e das cidades, enfim, todos aqueles conteúdos definidos nas ementas das diversas disciplinas a serem freqüentadas só têm sentido se, atrás de cada obra analisada, de cada desenho rabiscado, de cada cálculo efetuado, se atrás de cada momento em que nos dedicamos a esta profissão estiver sendo aprendido, simultaneamente, a razão e o sentido humano que levaram a arquitetura a existir e a se constituir como uma das principais atividades da existência humana. E é o aprendizado desse sentido humano, público e ético que não tem sido promovido nem pelos arquitetos e nem pelas escolas de arquitetura. E, assim sendo, a própria arquitetura começa a ser vista pela sociedade como algo supérfluo, "coisa de madame ou de decorador", "coisa de artista". Temo, contudo, que tal visão não seja apenas um erro da sociedade mas um triplo vício dos próprios arquitetos: o vício de se considerar a arte e a arquitetura como tendo fins em si mesmas e não como