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12508 palavras
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DE PERTO E DE DENTRO: notas para uma etnografia urbanaJosé Guilherme Cantor Magnani
Introdução
Neste artigo pretendo articular duas linhas de reflexão: uma sobre cidade e outra sobre etnografia. O propósito é explorar as possibilidades que esta última, como método de trabalho característico da antropologia, abre para a compreensão do fenômeno urbano, mais especificamente para a pesquisa da dinâmica cultural e das formas de sociabilidade nas grandes cidades contemporâneas.
Em primeiro lugar exponho, de forma sumarizada, alguns dos enfoques mais correntes sobre a questão da cidade e, em contraste com estas abordagens, que classifico como um olhar de fora e de longe, apresento outra de cunho etnográfico, a que denomino de olhar de perto e de dentro.
Não se trata, contudo, neste caso, de qualquer etnografia: procuro distinguir a proposta que desenvolvo de outros experimentos que também se apresentam como etnográficos. Penso, ademais,
que não há necessidade de muitos malabarismos pós-modernos para aplicar com proveito a etnografia a questões próprias do mundo contemporâneo e da cidade, em particular: desde as primeiras incursões a campo, a antropologia vem desenvolvendo e colocando em prática uma série de estratégias, conceitos e modelos que, não obstante as inúmeras revisões, críticas e releituras (quem sabe até mesmo graças a esse continuado acompanhamento exigido pela especificidade de cada pesquisa) constituem um repertório capaz de inspirar e fundamentar abordagens sobre novos objetos e questões atuais.
Explicito, a seguir, os pressupostos que estão na base dessa proposta e apresento categorias de análise, mostrando a aplicação de algumas delas em pesquisas recentes. Por fim, sinalizo com a perspectiva de um olhar distanciado, indispensável para ampliar o horizonte da análise e complementar a perspectiva de perto e de dentro defendida ao
RBCS Vol. 17 no 49 junho/2002
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REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 17 N 49
longo do artigo. Pretendo, com