28111999
REDAÇÃO
encontro virou Cimeira após discussões em inglês, numa decisão que ocorreu no Panamá. As tradutoras para o português eram nascidas em
Portugal, summit virou cimeira e assim ficou. [...]
Nestes tempos em que as palavras só se perdem, é realmente vantajoso ganhar uma. Já gostei mais um pouco da tal cimeira.
Na primeira gramática da língua portuguesa, escrita por Fernão de Oliveira em 1536, lemos que:
[...] mui poucas são as coisas que duram por todas ou muitas idades em um estado, quanto mais as falas [...] Nós, já agora, para fazer vocábulos de todo assim como digo não temos muita licença, mas, porém, se achássemos uma coisa nova em nossa terra, bem lhe podíamos dar um nome novo, buscando e fingindo voz nova, como poderiam ser as rodas ou moendas em que agora se fala e dizem que hão-de moer com nenhuma e pouca ajuda.
Esta tal coisa nunca foi vista, portanto, não pode ter nome. Se agora de novo for achada, trará também voz nova consigo. (pp.95-96)
(Artur Xexéo, Jornal do Brasil, 25.06.99)
Há um novo linguajar na praça, talvez filho da globalização, que me obriga a refletir, cada vez que o ouço [...] Já havia me acostumado ao verbo
deletar, palavra de boa origem latina, mas importada pelos informatas, quando ouvi um avião de traficante dizer numa entrevista que seu chefe mandara deletar o cara. Até bem pouco tempo, o verbo deles era apagar.
(Romildo Guerrante, Jornal do Brasil, 01.11.99)
Quase quatrocentos anos depois, em 1923, o escritor carioca, Benjamim Costallat, escreveria em seu romance
Mademoiselle Cinema, o delicioso trecho:
Elio Gaspari, em sua coluna no O Globo de 17.10.99, reproduz trecho do projeto de lei do deputado Aldo Rebelo
(PCdoB-SP):
O champagne salva muita cousa. Disfarça muita tristeza. No meio do jantar, a mulher já é outra.
Ri, diz pilhérias. De sua testa foram varridas as rugas de melancolia...
Um jazz-band de negros ensurdece com sua alegria forçada as risadas também forçadas daquele