1892 Pedro
Há uma grande nuvem de fumo sobre a crise financeira de 1891-1892 por causa do aceso debate político que a rodeou. Em finais da década de 1880, as contas externas de Portugal sofreram cortes importantes em três fontes de receitas de ouro e divisas: as exportações de vinho, afectadas pela recuperação do vinho francês; as remessas de emigrantes, que baixaram por causa de problemas políticos no Brasil; e a colocação de empréstimos no exterior, afectada pela falência do corrector principal do Estado português, a casa bancária Baring Bros.. Com tudo isso veio a crise financeira. Para a resolver, num clima de instabilidade política, sucessivos governos tomaram sucessivas medidas. A primeira, logo em 1891, foi cortar nos salários dos funcionários públicos e aumentar os impostos, incluindo os impostos sobre os juros da dívida pública comprada por nacionais. Depois, foi a decisão de abandonar o padrão-ouro. A seguir, em 1892, veio o imposto para o serviço da dívida pública detida por estrangeiros. A isso se chama por vezes, impropriamente, a bancarrota. Mas Portugal não deixou de pagar, cortou com um imposto os juros em 1/3 aos credores nacionais e 2/3 aos credores estrangeiros. Finalmente, no mesmo ano de 1892, foi reforçado o proteccionismo nas alfândegas de Portugal e das colónias. Consequências disto tudo? Boas, em geral. Quanto aos credores externos, em 1902 foi celebrado um acordo que apagou as mágoas. Portugal deixou entretanto de ter acesso aos mercados internacionais de capitais, mas estes secaram por todo o mundo. Para além disso, os orçamentos do Estado foram equilibrados a partir de 1897, mais ou menos, até 1910. Apesar da saída do padrão-ouro, a emissão monetária (isto é, fazer dinheiro de papel para substituir o ouro) manteve-se sob controlo, assim como a inflação. Isto foi muito importante. Graças à desvalorização cambial e ao novo proteccionismo, a indústria portuguesa continuou a crescer e a agricultura só não cresceu mais porque a partir de 1900