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5279 palavras
22 páginas
Na obra Úrsula a intenção é buscar estas referências de gênero. Adriana Barbosa de Oliveira (2007) observa a aguda leitura de mundo presente no romance Úrsula por parte da escritora Maria Firmina. Oliveira mostra em sua tese que os personagens sofrem o domínio patriarcal, e que o patriarcado é o causador da desigualdade entre os homens e as mulheres. Em sua tese, Oliveira também coloca a questão do preconceito, dos sentimentos e das dificuldades e diferenças entre homens e mulheres, que é uma condição insuperada na obra, embora Maria Firmina postule novos comportamentos em um período onde ainda havia pouco apoio social a emancipação escrava. Assim, desenvolve-se uma história e uma contribuição junto à historiografia que pode fornecer estudos dedicados ao gênero e a história afro-brasileira. História que envolve as aspirações, relações e a complexidade das experiências vividas pelas mulheres escravas, e principalmente as representações e olhares que recaem sobre elas na sociedade, em especial na questão afetiva. Na obra, assim como ocorrera no período escravista, o senhor de escravos tem por função o domínio e o controle destes; contudo, não é todo escravo que ele consegue manter sob seu domínio, visto que Mãe Susana não se submete a esta hierarquia, justamente por ser ela de uma visão de mundo antiescravista. Através da temática de gênero, essa não-submissão à hierarquia será mais bem entendida. Pela lógica do período, Mãe Susana deveria ser submissa a Fernando P. (vilão da história) e ela não o é. Já que sendo Fernando P. homem e senhor de escravos ele exerceria duplamente um poder. Primeiro por ser homem (o homem domina a mulher), segundo por ser senhor (o senhor domina os escravos). A figura de Mãe Susana quebra a representação criada pela sociedade, sobre a mestiça e sobre a negra. Ou seja, longe de ser a mulher submissa, sem pensamentos e ações próprias, Mãe Susana se afasta da figura da escrava obediente caracterizada nos romances. Numa época em que a mulher