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NEGÓCIO DE BURRO

O
Seu Benazzi era a pessoa mais conhecida da cidade. Todos lhe queriam bem. Criava burros, negócio que herdara do pai. Todo mundo, naquele tempo, possuía seu burrinho, oriundo quase sempre do curral de seu Benazzi. Pais e mães iam às compras e à igreja, crianças à escola, a moçada a festas e bailes, sempre em lombo de burro. Carroças e charretes, pra trabalho e passeio, rodavam em quantidade, sempre puxadas por burros. O burro era a vida da cidade. E seu Benazzi sentia-se feliz, porque era ele quem criava os burros, tão importantes para toda gente.
(Por que será que chamam de burro ao ignorante? O burro é muito inteligente. Aprende tudo com facilidade, nunca esquece o que aprendeu.
Solto longe de casa, jamais erra o caminho de volta, e é muito amigo do dono, principalmente se este for carinhoso com ele. Às vezes empaca, mas é por algum profundo e filosófico motivo, que o homem não consegue enxergar. Apesar de tanta inteligência e qualidades, trabalha muito a troco de quase nada. Ah... esse o destino do ignorante, do que não tem estudo na vida: trabalhar pra burro e pastar.)
Mas, voltando à história, os anos foram passando, e muita coisa mudou. Veio a era do automóvel, todo mundo queria ter o seu. Gasolina barata, ninguém mais queria saber de carroças e charretes. E seu Benazzi deu com os burros n’água até na roça, o arado puxado por burro foi trocado pelo trator. Coitado do seu Benazzi, cada vez mais pobre, cada vez menos necessário. Era ele pôr a cara na rua e todos – ingratos! – troçavam em coro.
— Cabeça-de-vento
— Cria jumento!
— Criar burro – que burrada!
— Dinheiro que é bom – nada.
A gozação rimada deixava seu Benazzi rubro, vexado e casmurro. Mas ele não desanimava, continuava cuidando de seus burros, sabia das voltas que o mundo dá. Mesmo os burros andavam tristonhos. Não por causa dos versinhos maldosos que o povo cantava, mas por causa da poluição que tomou conta

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