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9273 palavras 38 páginas
O CONTEXTO MENTAL DA TRAGÉDIA BRASILEIRA
GOTA D'ÁGUA: DIÁLOGOS COM A CULTURA
POLÍTICA COMUNISTA1
Miriam Hermeto2
O texto Gota D’Água, escrito, em 1975, por Chico Buarque e Paulo Pontes3, tendo sido lançado em livro4 e encenado no mesmo ano, tornou-se muito rapidamente uma importante referência da literatura dramática nacional. Este artigo propõe-se a analisar o contexto mental de produção dessa tragédia, que se constituiu em diálogo com a cultura política comunista brasileira, no âmbito da ditadura militar. Partindo de breve análise das estratégias de escritura, investigando o papel de cada um dos autores no processo, constitui-se em exame das formas de mobilização dos valores e das representações da cultura política comunista na construção do argumento trágico, como uma crítica à sociedade brasileira do “milagre brasileiro”.
Vernant e Vidal-Naquet5 afirmam que a tragédia só pode ser compreendida se relacionada ao contexto mental de sua produção, devendo ser analisada a partir de três aspectos fundamentais. Primeiramente, o aspecto social: “a cidade se fazia tragédia”, no advento dos concursos trágicos, que eram tão importantes para o povo quanto os órgãos políticos e judiciários – vale ressaltar que na democracia grega estes exerciam um papel essencial na vida cotidiana dos cidadãos e no imaginário social. Em segundo lugar, uma dimensão estética, uma vez que a invenção da tragédia correspondeu à inauguração de um gênero literário. Finalmente, um aspecto psicológico, pois com o novo gênero surgia também um novo sujeito: o homem
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Este texto foi elaborado a partir do capítulo “Primeira escala: o livro e a leitura”, da tese de doutorado de Miriam Hermeto, “Olha a Gota que falta: um evento no campo artístico-intelectual brasileiro (1975–1980)”, submetida ao Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (FAFICH/UFMG), Belo
Horizonte, 2010 (com financiamento da FAPEMIG).
Bolsista de

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