É Primavera
Texto de Pedro J. Bondaczuk
O clima tem influência maior do que pensamos sobre o nosso humor. Em um dia cinzento e chuvoso, acompanhado de vento frio, nossas tristezas – verdadeiras ou imaginárias (a maioria) – parecem ganhar dimensões maiores. O oposto também é verdadeiro. Nosso espírito acompanha o que nossos olhos vêem, nosso olfato cheira, nossos ouvidos ouvem e nossa pele sente.
Esta é a função dos sentidos: determinar se o ambiente é propício ou não ao bem-estar e segurança do organismo. Se as sensações são agradáveis, refletem-se logo em nosso ânimo, independente da nossa vontade e tornam-nos predispostos à alegria, à afabilidade, ao otimismo e ao riso fácil. Em caso contrário... Posso comprovar isso neste primeiro dia de primavera.
O sol brilha intenso lá fora, emprestando uma luminosidade, que me parece inusitada, à cidade. Mas é só impressão. Não existe nada de novo neste dia. Em tantas outras ocasiões o mesmo cenário desenhou-se diante dos meus olhos. Eu é que certamente esqueci, engolfado por preocupações mesquinhas e mórbidas – como as da maioria, senão totalidade, das pessoas. O homem ainda não aprendeu a viver. Não, pelo menos, cada dia por vez.
Vivemos obcecados pelo "futuro", esperando encontrar neste tempo potencial – que sequer sabemos se iremos alcançar – a felicidade, quando nele está apenas a nossa extinção. Quando? Felizmente não sabemos. Mas nossa morte está lá, inscrita nele, com todos os detalhes.
Muitas vezes observei esse mesmo cenário, que observo agora, atentamente e deliciei-me com a amenidade do clima. A memória tem noção disso, mas bastante imprecisa. Todavia, traz registrados, vivos, como se houvessem ocorrido a poucos instantes, sofrimentos, mágoas e decepções de muitos anos atrás. Tolice.
O homem não sabe mesmo viver. Em tantas ocasiões também estive no mesmo cenário luminoso de agora, com o mesmo sol de primavera brilhando e a mesma brisa suave acariciando meu rosto. Todavia, mergulhado em