Ética
Simon Schwartzman
Instaure-se a moralidade, ou locupletemo-nos todos!” (Estanislau Ponte Preta)
Na última campanha eleitoral, a oposição levantou a bandeira da moralidade na política, que pode ter sensibilizado a muitos, mas não o suficiente para convencer a maioria dos eleitores a mudar seus votos. Ainda hoje, pessoas que insistem no tema da ética e da corrupção no trato das coisas públicas são acusadas de “udenistas”, expressão que pode não fazer muito sentido para quem tem menos de 50 anos, mas lembra as campanhas da antiga União Democrática Nacional, com Carlos Lacerda, Aliomar Baleeiro e a “banda de música” dos políticos que faziam oposição a Getúlio, primeiro, e a Juscelino
Kubtistchek depois. Nos anos 50, um artigo famoso nos Cadernos de Nosso Tempo interpretava o moralismo udenista como uma manifestação da alienação das classes médias em relação às transformações que ocorriam no país, das quais elas não participavam2. A própria palavra “moralismo” já trazia uma desqualificação, que era depois explicitada: a perspectiva moralista, no melhor dos casos, era ingênua, porque supunha que a ética da política devia ser igual à ética das relações pessoais, e não tomava em conta a realidade da tensão entre meios e fins que, desde Maquiavel, sabemos ser
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Texto preparado para a V Jornada de Ciências Sociais, mesa redonda "Sociedade Brasileira e Poder". Belo
Horizonte, UFMG, novembro de 2006. Publicado em Renarde Freire Nobre, organizador, O Poder no
Pensamento Social – Dissonâncias,
Belo Horizonte, Editora UFMG, 2008. Agradeço as críticas e
comentários de Antônio Octávio Cintra, Elisa Reis, Fábio Wanderley Reis e Osmar Perazzo Lanes a uma primeira versão deste texto.
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(Cadernos de Nosso Tempo 1981). O texto está disponível em
http://www.schwartzman.org.br/simon/moralismo.htm
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inerente à ação pública. E além disto, era frequentemente hipócrita: as