ética

2. Ética desde a sensibilidade: deixar o outro mostrar-se
Uma questão que se faz importante aqui é pensarmos sobre como nos colocamos frente ao rosto do outro. Aliás, o outro – que se mostra como rosto – já se mostra como uma questão! Será que podemos olhar para alguém e dizermos que o conhecemos?
Possivelmente você já tenha escutado narrativas de pessoas que dizem que ao tomar contato com alguém pela primeira vez já sabem dizer se “presta” ou não. Ou mais comumente ainda é ouvirmos, a respeito do contato humano, a frase: “a primeira impressão é que fica”. Essas expressões são verdadeiras se negarmos ao outro a possibilidade de mostrar-se, se nos negarmos à abertura frente ao rosto do outro. No entanto, se levarmos a sério que o rosto do outro é questão (ou enigma), então não há como rotulá-lo ou classificá-lo. Mas deixar o outro mostrar-se, sem rótulos prévios, exige uma apurada sensibilidade.
Você já se deparou (pode ser no transporte público ou outras situações) estando involuntariamente frente a frente com outra pessoa, olhando para o rosto dela e ela olhando para o seu? Não me refiro a um olhar que se busque, mas àquela troca de olhares involuntária. Como você reagiu nessa situação? Muitas pessoas mudam de direção rapidamente quando isso ocorre. Por quê?! Por que o rosto do outro constrange?

Pense sobre isso.
Agora outra situação: quantas vezes estamos em meio a uma multidão, mas nos sentimos sós? Isso pode acontecer quando se está caminhando nas ruas de um centro urbano, em meio a muitas pessoas, mas, ao mesmo tempo, num absoluto anonimato.
Portanto, estar junto a outras pessoas não quer dizer que haja alguma relação. O rosto do

outro poderá nada significar se não houver alguma abertura para deixá-lo mostrar-se.
E quantos são os rostos anônimos?!
Quais são os rostos que habitualmente a sociedade não permite que se mostrem?
Você já passou para pensar que ao nosso redor podem existir rostos “invisíveis”? Ou seja, rostos que não