Ética profissional
A existência de normas sociais implica a possibilidade de infringi-las.
Ao multiplicar as tentações,as sociedades contemporâneas são particularmente propícias à transgressão.
Em julho de 1997, na abertura do programa de televisão Você decide da TV Globo, que introduz episódios polêmicos e solicita aos telespectadores que telefonem, posicionando-se a respeito do final preferido, o apresentador perguntou: “Você abriria mão de seus princípios em nome de uma vida melhor?” Para espanto do diretor, boa parte dos telespectadores que se pronunciaram não teve dúvidas em responder “sim”. O episódio “Cobiça” colocava uma secretária diante de urna oferta criminosa: assumir o papel de “laranja” numa conta “fantasma”. A proposta fora feita por seu chefe, um empresário, dono de uma corretora de valores e envolvido numa fraude financeira. Honesta até então, a secretária sofreu pressões tanto de seu chefe como de seu marido que se dizia ameaçado de morte por causa de dívidas de jogo.
Os espectadores optaram entre três finais: 24,3% disseram que a secretária deveria denunciar o chefe; 27,2% acharam que deveria pedir demissão e silenciar sobre o esquema; e 48,5% consideraram que a secretária deveria aproveitar a chance de melhorar de vida e entrar no esquema. Foi então passado o terceiro final.
Se somarmos os que mantêm uma irrepreensível posição de integridade (a denúncia) aos que preferem afastar-se sem comprometer-se (a demissão e o silêncio), teremos 51,5%, o que revela a ambigüidade que marca com clareza o imaginário brasileiro.
As representações mentais brasileiras, entretanto, estão sofrendo o impacto de novos e decisivos fatores e tendem a redefinir-se. Para o Brasil, os anos 90 foram traumáticos. A abertura comercial acompanhou o abandono do modelo protecionista de desenvolvimento e coroou a falência financeira do Estado. Adotou-se, por imposição estrutural, um modelo de integração competitiva no mercado mundial, o