Ética, economia e sustentabilidade
Nuno Ornelas Martins[1]
Resumo
A crise económica e social actual levanta questões importantes acerca da sustentabilidade do sistema sócio-económico contemporâneo. Será argumentado aqui que, para responder à crise actual, torna-se necessário abordar duas questões éticas, designadas por Amartya Sen como a questão “Socrática”, que se prende com a componente motivacional do agir humano (e o comportamento dos agentes económicos), e a questão “Aristotélica”, que se relaciona com o bem comum (e tem implicações ao nível do impacto da distribuição na sustentabilidade social e económica). A crise actual resulta em larga medida de uma incapacidade da teoria económica ortodoxa para analisar estas duas questões, que sendo fundamentais para autores clássicos desde Adam Smith a Karl Marx, foram todavia marginalizadas dentro da teoria económica ortodoxa.
Palavras-chave: ética, sustentabilidade, desenvolvimento, teoria económica.
1. Introdução
A ciência económica começou por ser um ramo da filosofia moral, tendo a dimensão ética se tornado subsequentemente cada vez menos estudada. Todavia, a crise económica contemporânea levanta sérias questões acerca do poder explicativo de uma ciência económica que não procede a um escrutínio rigoroso da dimensão ética da actividade económica, e acerca da sustentabilidade de uma economia em que tal escrutínio não é efectuado.
Amartya Sen (1987) argumenta que existem duas dimensões fundamentais nas quais a ética se interliga com a economia. Uma dessas dimensões centra-se no estudo da motivação humana para a acção (que Sen designa como a questão “Socrática” de “como devo viver?”), e outra dimensão preocupa-se com a análise do bem-estar (que Sen designa como a questão “Aristotélica” relativa ao bem comum, que deve ter em conta o bem-estar do indivíduo, e a justiça distributiva).
A crise económica contemporânea levanta interrogações nestas duas dimensões. Efectivamente, entre as causas