ética da compaixão e política
Fernando Quintana
A máxima associada à Rousseau “obedeço logo sou livre” é relevante se levarmos em conta que inaugura um novo conceito de liberdade1 com fortes implicações no campo da moral e da política, duas esferas, que, segundo o filósofo genebrino, em Emílio, são inseparáveis: aqueles que querem tratar a política e a moral separadamente jamais entenderam nenhuma das duas. Ambas as esferas, por sua vez, remetem a um tipo de ética, a ética da compaixão, baseada em bons sentimentos humanos.
Esta ética é importante porque, em contraste com o iluminismo da época, acredita mais na força dos sentimentos do que não poder da razão. Neste sentido, Rousseau pode ser tido como escritor de catálise - que traz acréscimos. Mais especificamente, segundo estudiosos, porque prepara o caminho para todos aqueles que acreditam que o homem não é o indivíduo definido por seus interesses, nem pelo uso da razão, mas aquele que está ordenado pela natureza à prática da moralidade como ao mais alto grau de desenvolvimento que possa alcançar (Gueniffey, 2000: 321). Uma moral que se funda na faculdade mais sublime: o sentimento. O sentimento, como instrumento de penetração na essência da interioridade, sendo um dos elementos estruturais do pensamento de Rousseau (Bastide; Machado, 1978: p.XV).
Uma moral que, baseada em bons sentimentos humanos, é compatível com o principle of benevolence que ordena a nos desviar do que é prejudicial e fazer o bem (Frankena,
1972 apud Habermas, 1999: 20). Uma moral que se traduz em comportamentos, a ética da compaixão, que leva os cidadãos agir para o bem de todos. Trata-se, portanto, de mostrar a importância dos sentimentos morais e virtudes éticas com o intuito de enriquecer, também, a noção de humanidade, bem como o efeito político desta noção.
O Contrato social traz um temor a priori dominante no pensamento e prática política do Ocidente: o “espectro da vontade geral”2. O contrato aponta para uma