África e Negritude
ELIO CHAVES FLORES*
Muitos ativistas negros da geração pós-abolição, que haviam fundado a FNB (Frente
Negra Brasileira), em 1931, voltaram a fundar entidades e organizar eventos, no ocaso do Estado Novo.1 A década de 1940 foi rica em protagonismo negro com a criação do
Teatro Experimental do Negro (1944-1968), as conferências e os congressos negros
(1945, 1949, 1950) e a publicação do Jornal Quilombo (1948-1950). Entre 1950 e 1970 a intelectualidade negra se defronta com as décadas da descolonização africana e passa a refletir sobre os dois lados do Atlântico (a África e a Diáspora). Essa reflexão pode ser vista como negritudinista e jacobina. Denominei de jacobinismo negro o pensamento radical de Abdias Nascimento, Guerreiro Ramos e outros, protagonistas das ações políticas da negritude, nos intensos diálogos que travaram com o pensamento de esquerda no Brasil nas décadas de 1940 a 1960.2 Foram eles que procuraram dar ao movimento negro o conteúdo de luta racial como um vital componente da luta de classes e colocaram a descolonização da África na cena política brasileira.
Na obra autobiográfica Abdias Nascimento: o griot das muralhas (2006), narrada ao poeta e contista negro Éle Semog, o autor relembra sua formação política e militância nas lutas emancipatórias dos negros contra o racismo disfarçado de mito da democracia racial na sociedade brasileira. Seu objetivo era dar visibilidade e expandir o potencial de homens e mulheres negras numa nação que tinha e tem o racismo como uma de suas principais marcas. Abdias Nascimento serviu ao exército, foi expulso por duas vezes, preso inúmeras vezes. Logo após a Revolução de 1932 começou a participar da Frente
Negra Brasileira. Abdias descreve que, a partir do momento que começou freqüentar
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Professor do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH/UFPB). Bolsista do CNPq com o projeto
Margens do Atlântico: