V seculo dos deuses
Callois (1990) classifica o jogo de truco nas categorias agôn (competição) e alea (sorte). Segundo esse autor, esse é um jogo em que astúcia e trapaça codificada são regulamentadas e obrigatórias. Semelhante à manilha e ao pôquer, o truco é um jogo em que o blefe, tanto em relação às próprias cartas quanto em relação à postura corporal, é determinante para o sucesso no jogo. A ação do jogador, portanto, tem capacidade de subverter a própria sorte.
O truco consiste em invocar nomes na mente do parceiro de uma maneira que somente ele perceba. O bom jogador, rápido e discreto, sabe como aproveitar a menor das distrações do adversário para aumentar sua chance de sucesso. Utilizam-se jogos fisionômicos, isto é, um rol de caretas, de esgares, de piscar de olhos etc. para simbolizar ao companheiro de equipe as cartas do jogo (CALLOIS, 1990).
Esse jogo requer não apenas habilidade pessoal de malandragem, blefe e leitura de ambiente, como também coesão e respeito grupal, pois um jogador sozinho possui sua chance de sucesso reduzida. O autor posto acrescenta ainda que, no nível simbólico, o jogo de truco acaba por dar compensação ao eu através da permissão ao blefe e à mentira, ilicitudes reprovadas e condenadas socialmente.
O truco é popular na América do Sul e varia de região para região. Na região Sul do Brasil utiliza-se o baralho espanhol (Truco Cego ou Gaudério), enquanto nas regiões Sudeste e Centro-Oeste geralmente utilizam-se o baralho francês. O truco pode ser jogado por duas até oito pessoas.
Devido à suas inúmeras variações, nos ateremos às características do jogo que estudamos: o jogo acontece em uma mesa octogonal de madeira, forrada com um pano verde, parecendo um forro de mesas de sinuca. A mesa fica ao fundo do salão, no canto direito dele. Oito banquinhos de madeira ficam encostados na mesa, e servem para a realização do jogo. Um passo para trás dos banquinhos geralmente está a equipe perdedora, espiando um ou outro sinal, uma ou outra