R Libre
Brasil
Ricardo Nóbrega
Verônica Toste Daflon
Iuperj
Introdução
Na transição da ordem escravocrata para o mercado de trabalho assalariado no Brasil, elementos raciais e étnicos representaram critérios não-econômicos que ordenaram preferências e hierarquias entre os trabalhadores e atuaram como uma base normativa para as relações sociais. A partir de um branco e de um negro simbólicos, local e historicamente situados, estabeleceu-se relacionalmente o lugar de cada trabalhador nessa sociedade, o que por sua vez exerceu influência sobre as possibilidades de inserção dos indivíduos no mercado de trabalho e no preenchimento de determinadas ocupações.
Havia nesse processo uma tensão resultante de forças antagônicas, pois ao mesmo tempo em que se buscava eliminar vestígios do passado colonial - então visto como uma amarra ao seu progresso e ao seu desenvolvimento -, havia igualmente uma preocupação com a manutenção da ordem e da estrutura de poder vigentes. A introdução de imigrantes brancos de origem européia nas regiões agrícolas e nas grandes cidades do sul do país - em especial na lavoura cafeeira do estado de São Paulo, local que adquiriu um forte dinamismo econômico nesse período – tornou a organização social mais complexa e modificou o próprio significado de nação anteriormente vigente.
O marco inicial para a modernização brasileira é o ocaso do Império. A partir da decadência da organização sociopolítica então vigente e das revoluções burguesas ocorridas nas nações européias e nos Estados Unidos, surge entre os setores dominantes locais o sentimento de que um novo projeto de nação era necessário para que se acompanhasse o progresso dos novos tempos.
Nos últimos decênios do século XIX, o cultivo do café torna-se a principal atividade econômica do país e as exportações desse produto em um contexto internacional de preços favoráveis possibilitam um acúmulo de capitais que permitiu o