O valor de um conselho
O valor de um conselho
Encontrava-me, sendo criança, em uma estância e, como todas as crianças, gostava de me afastar das casas e correr pelos campos. Um dia, saí montado em um petiço, com o propósito de ir até um rio muito distante, ao qual para chegar, tinha que atravessar montes e serras. Andando um pouco, encontrei no caminho o capataz da estância, acompanhado por alguns camponeses, que ao ver-me, perguntou amavelmente aonde ia; ao responder que me dirigia ao rio, disse-me:
– "Para chegar ao rio, terá que passar por três porteiras; tenha cuidado, menino, porque ali existe gado bravo, e quando vê gente nova é capaz de atacar".
Eu já tinha ouvido falar dessa boiada, mas mesmo assim decidi continuar o caminho. As porteiras que tinha que cruzar para chegar ao rio eram dessas antigas, cujos paus horizontais, superpostos, se introduzem nos orifícios de dois postes verticais colocados em ambos os lados do caminho.
Ao passar pela primeira, lembrei-me da recomendação do capataz, o qual me havia dito que a deixasse aberta ou só com o pau inferior colocado, para o caso de que a boiada corresse atrás de mim. Quando atravessei a segunda, esqueci-me da recomendação e afastei-me após ter fechado a porteira com todos os paus; ainda bem que ouvi, próximo, um burro zurrar, e crendo que fosse um leão, ou algo parecido, rapidamente voltei para tirá-los. Ao passar a terceira porteira, já próxima do rio, também tirei os paus.
Descia o vale, quando vi, de repente, a boiada pastando tranquila. "É a isto que chamam de gado bravo?" – disse-me, ao mesmo tempo em que decidia passar no meio dele. Não havia transcorrido um minuto, quando um touro enorme, que me pareceu de vinte ou trinta metros cúbicos, levantou a cabeça, olhou-me e, em seguida, começou a correr na minha direção e, com ele, todos os demais. Então sim, vi o perigo e fincando as esporas nas ilhargas do meu petiço, passei como um bólido pelas