O trabalhador
Um feliz carboidrato. Ou mesmo um bom suco de laranja, um revigorante composto de aminoácidos. Nem sabia o quanto mais suportaria antes de entrar em colapso, ter um piripaque repentino e virar gelatina. Só sabia o que sentia, o extremo cansaço de quem não se alimentava bem há dias. Ainda assim, dava um duro danado horas a fio, sem descanso. Estava que era um caco só, e isso o deixava angustiado. Porque em seu meio profissional, a aparência dizia muito, e a sua denunciava o estado minguado no qual se encontrava. Quase um morto-vivo, um pedaço de carne digno de estrelar qualquer thriller à la Roger Corman. Se esta fosse a única questão, tudo bem, nunca fora vaidoso.
O grande problema, o maior que já enfrentara em quase setenta anos, era ligado à sua longevidade na empresa. Pouco a pouco, o trabalho para o qual nascera ia perdendo sua utilidade, as filiais ruindo, o fracasso iminente. Ele sabia. Todos sabiam. Era o tema preferido que ecoava pelos corredores e passagens do infindável complexo.
Apesar disso, ele empenhava-se ao máximo em cada processo que descia, do mais rápido ao mais demorado, na esperança de que isso lhe favoresse com um pouco de sobrevida, caso rolasse uma lista de cortes. Não que fosse descartável, pelo contrário.
Suas atividades eram de suma importância para sustentar a gigantesca indústria. Assim, não parava nunca. Como explicar, então, toda aquela gordura que pendia das laterais do seu corpo? Não podia, não entendia. Na última leitura, apresentara um IMC pra lá de mórbido. Restava o consolo de contar com um chefe decente e de bom coração, que lhe passara um breve memorando no mês passado: “Atenha-se às tarefas básicas, meu amigo, nada de complexidades, por ora. Precisamos muito de você ainda”.
É, mas, em seu íntimo, ele achava que talvez fosse o fim mesmo.
Os companheiros de outros departamentos, veteranos como ele, falavam que a situação poderia ser