O Solista
Percebemos no filme que enquanto a redação do Los Angeles Times, onde Lopez trabalha, faz cortes de pessoal por causa da queda nas vendas de jornais, o repórter consegue emplacar uma matéria de grande repercussão. Leitores escrevem cartas comovidas com a história de Nathaniel e até o prefeito da cidade, influenciado pelos textos sobre o mendigo, anuncia medidas demagógicas para amenizar a situação dos mais 90 mil sem-teto da cidade. Mas não é só o público que se comove com a história do talentoso aluno de Julliard que ficou esquizofrênico e foi morar nas ruas.
Lopez não consegue se desligar da fonte e deixa de ser apenas o repórter em busca de uma boa história e torna-se amigo do rapaz. Diría-mos que ele deixa de viver a sua vida para viver a vida do amigo. Lopes planeja tirar Nathaniel das ruas, fazê-lo voltar a estudar música. O apego é tanto que o mendigo chega a dizer que Lopez é seu Deus, que vive nas alturas do Los Angeles Times. O filme é denso por cruzar questões de grupos aparentemente tão distantes, por meio de dois indivíduos que não deveriam se envolver muito além das entrevistas como : a crise nas alturas do grande jornal e o caos de quem vive o desamparo das ruas.
O travesseiro que Nathaniel usa, para dormir abaixo de uma marquise, é no formato da bandeira do país; seu carrinho para carregar tralhas é decorado com a bandeira norte-americana e em uma das cenas ele aparece usando um chapéu igual ao do Tio Sam, ou seja, será um sonho americano? O mendigo-músico, sem dúvidas, rendeu boa pauta, mas uma história tão rara e uma pessoa tão encantadora movem o interesse de Lopez para além da profissão. Envolto na trágica ironia da vida de Nathaniel, Lopez parece esquecer que é o jornalista, em sua vida de solitário divorciado, viciado em trabalho.
Lopes encontra um novo sentido ao tentar entender o talento, a resistência e a ingenuidade que Nathaniel mantém vivendo em meio ao perigo e à miséria, receoso em sair das ruas, com pânico