O sistema Retórico
O discurso retórico é posto por Aristóteles como produto da razão, da mente racional típica e característica da espécie Homo sapiens. Trata-se, pois, de produção estrategicamente pensada, analisada e refletida e, por tal, em nada se assemelha, por exemplo, com mecanismos literários da cultura mo derna, que, ao valorizar a espontaneidade da expressão como meio legítimo da expressão, possibilitou, em um extremo, o surgimento da revolucionária poesia de Arthur Rimbaud com seu livro Iluminações e, no outro extremo, o
A Retórica de Aristóteles 25 aparecimcnto da escrita automática consagrada pela vanguarda surrealista. Por tratar-se de discurso compreendido como produto racional - e, portan to, resultante de uma estratégia racional -, a retórica consagrou um plano para elaboração e construção do discurso, plano que se revela nitidamente método ou metodologia de argumentação. A tradição oriunda do estoicismo romano procurou, por intermédio de Cícero, justificar tal estrutura metodológica de origem aristotélica, tecendo as seguintes considerações: “Etenim caussa prosita primum intelligere debenus, cujus modi cuassa sit, deinde invenire, quae, apta sint caussae, tum inventa rec- te et cum ratione disponere” (É preciso primeiro compreender o que a causa implica, a que gênero pertence, em seguida descobrir o que está adaptado à causa, enfim dispor o que se encontrou de maneira justa e racional). Aristóteles abre o Livro III da Retórica afirmando: “três são as questões relativas ao discurso que precisam ser versadas a fundo: a primeira donde se tirarão as provas; a segunda, o estilo que se deve empregar; a terceira, a ma neira de dispor as diferentes partes do discurso”. Aristóteles está a se referir respectivamente às diferentes etapas previstas pelo método retórico para elaboração do discurso: euresis, lexis e táxis ou, como consagrou a tradição latina, inventio, elocutio e dispositio. Essas etapas constituem a primeira parte do sistema retórico e