O risco a Adolescência
PHILIPPE LACADÉE
O psicanalista Philippe Lacadée integra a Escola da Causa Freudiana e é vice-presidente do Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a Criança (Cien). Este artigo foi traduzido por Bernadete Carvalho e revisto por Cristiana Pittella.
Há alguns anos, o “adolescente de risco” se tornou preocupação maior em nossa sociedade. A dificuldade em transmitir, com a qual pais e educadores esbarram, é um dos fatores-chave que nos orientam no encontro com o adolescente.
Ele não é mais o herdeiro da tradição e transmissão tecidas ao fio das gerações. A falta de referências tradicionais torna alguns deles deserdados, obrigando-os a se transformar em artesãos do sentido da própria existência, com a injunção de estarem sempre à altura, se sempre mais eficazes e performáticos.
Em busca simultânea por tutela e autonomia, o jovem experimenta seu estatuto de sujeito – para o melhor ou para o pior. Ele testa a fronteira entre o fora e o dentro, joga com as interdições sociais, estuda o seu lugar no seio de um mundo onde não se reconhece muito bem. Inapreensível para os outros e para si mesmo, inscreve a sua experiência, freqüentemente indizível, na ambivalência ou na provocação.
Os limites simbólicos na relação com os outros e com o mundo se desenham onde ele experimenta a carência para dizer tudo de seu ser. Esses limites simbólicos lhe permitem se situar enquanto parceiro ativo no seio do laço social, sabendo o que pode esperar dos outros e o que os outros podem esperar dele. Ser reconhecido, ter o seu lugar na sociedade, experimentar o sentimento de necessidade pessoal, do valor e do sentido de sua vida é o que ele espera no momento em que, de modo paradoxal, se separa daqueles que o puseram no mundo.
Levado por esse elã e sustentado pelo gosto de viver, o adolescente também experimenta um momento de dúvidas. Freqüentemente – e pela confiança naquele que se ocupou dele –, não chega ao ponto de arriscar a existência para saber se a vida