O retorno
O romance de Dulce Maria Cardoso, O Retorno, interessou-me por duas razões: a primeira é o facto de nos trazer à memória factos e histórias de vida que tendem a ser esquecidas e que aconteceram num passado recente da nossa História; a segunda tem que ver com uma das características do romance que é o processo da sua narração, que nos aproxima e ajuda a identificar com o narrador, um adolescente que conta a sua história de retornado. Colocando-nos no lugar dele, percebemos por um lado a realidade colonial, o caos que se instalou na partida apressada dos que se viram obrigados a abandonar Angola e a discriminação que sofreram como grupo social quando chegaram a Portugal.
O problema da discriminação está presente ao longo de toda a narrativa embora não seja o tema principal. Sendo uma questão que nos deve preocupar porque atenta contra a dignidade humana, resolvi destaca-lo como tópico da minha pesquisa que tenta responder à seguinte pergunta:
Que tipos de discriminação se detectam no romance ‘O Retorno’?
Neste trabalho dedico a primeira parte ao contexto histórico em que evolui a acção do romance, analisando o período que corresponde ao fim da ditadura, queda do império, com especial referência à descolonização.
Em seguida, destaco na história todos os momentos em que o discurso de Rui sublinha os diferentes tipos de discriminação presentes na obra.
Este trabalho apresenta em conclusão três tipos de discriminação:
O racismo: dos brancos em relação aos negros durante o colonialismo; ou dos negros em relação aos brancos assim que deixaram de sentir a opressão.
A homofobia
A hostilidade e humilhação que os retornados sentiram quando chegaram a Portugal, a que chamei de discriminação social, por ser dirigida a um grupo que procurava integrar-se como portugueses na metrópole.