O renascimento e valorização do homem
O Renascimento é um movimento amplo, cultural e urbano, que se inicia na Itália, mas circunscreve-se a toda Europa Ocidental e que procura retomar os valores da cultura clássica greco-romana. Sua amplitude se inscreve também em mudanças políticas e econômicas, que vai desde a mudança de regime político a uma transição do feudalismo medieval para o capitalismo propriamente dito como modo de produção (passando pelo metalismo e pelo mercantilismo).
O Humanismo, poderíamos dizer, teria sido a base epistemológica desse período; o tipo de olhar lançado a toda historicidade que caracteriza o período renascentista. A valorização do Homem, do indivíduo, do discurso plural e muitas vezes direcionadas e setorizadas rivalizaram com a tentativa de sistemas totalizantes de explicações, e por esse motivo muitos acharam que o Humanismo não se enquadraria numa escola filosófica específica. No entanto, mesmo não havendo sistemas totalizantes de interpretações sistemáticas da realidade, a congruência de um olhar voltado a partir da realidade humana para se explicar o mundo, mesmo que de forma fragmentada, nos coloca na evidência de ao menos concebê-lo como uma corrente filosófica.
A perspectiva de uma tendência secular crescente dada pelo deslumbre da vida nas cidades, fez com que banqueiros ricos, mercadores e comerciantes abastados voltassem seu olhar para o desfrute dessa vida em contrapartida a uma expectativa de salvação numa vida futura (PERRY 2002, p. 220). Isso não significa um ateísmo latente, mas uma clara dicotomia entre o discurso hegemônico religioso católico e a realidade da vida mundana que se abria para quem tinha recursos na efervescência cultural das cidades renascentistas. A intelectualidade crescente e a busca de outras referências que justificassem o usufruto de uma nova posição social de uma classe emergente que diferia do clero, dos nobres e do povo comum, deflagram um movimento cultural que se centra no homem