O que é singularidade
Um outro aspecto a ser analisado é a questão da singularidade para tentar entender melhor o paradoxo de uma sociedade iguais. O que Pierre Rosanvallon qualifica de singularidade pode parecer estranho. Deixamos o nosso autor explicar (destaquei em negrito alguns trechos):
“A aspiração à singularidade só pode tomar forma na relação com o outro. Encontrar o sentido da própria existência na diferença em relação aos outros implica viver com eles. A autonomia é determinada por uma variável de posição, estática na sua essência. A identidade é determinada por variáveis de constituição; necessariamente compósita, mesmo podendo evoluir no tempo. A singularidade é determinada por uma variável de relação; não é um estado. A diferença no seu caso é o que une, não o que separa. Ela suscita a curiosidade, a vontade de descobrir, o desejo de compreensão do outro. A igualdade das singularidades, longe de repousar no projeto de uma “mesmice” implica, pelo contrário, que cada indivíduo se manifeste pelo que lhe é próprio. O fato da diversidade torna-se padrão da igualdade. Isso significa que cada um pode encontrar o próprio caminho e tornar-se dono da própria história e que cada um é igualmente único.
Essa forma de igualdade define um tipo de sociedade cujo modo de composição nem é o universalismo abstrato nem é o comunitarismo identificador: é de uma construção e de um reconhecimento dinâmico das particularidades. Essa reviravolta tem implicações consideráveis. Indica que é a partir do que eles têm de específico que os indivíduos querem doravante construir a sociedade. A valorização da singularidade tem um efeito imediatamente social. Ela não marca uma tendência à distanciação em relação à sociedade (no sentido do individualismo separador): ela fundamenta a espera de uma reciprocidade e de um reconhecimento mútuo. Isso conduz para a entrada numa idade plenamente democrática do social, correspondente à constatação que essa, definitivamente, não