O que o dinheiro não compra
No mundo em que nos encontramos, nos deparamos muitas vezes com tais perguntas: Será que vivemos em um mundo onde tudo está à venda? A lógica de mercado é capaz de corromper qualquer atividade desprovida de ‘DNA’ mercantil? Ela deve prevalecer sobre a moral?
Em seu livro ‘O que o dinheiro não compra’ Michael J. Sandel, célebre professor de filosofia da conceituada Universidade de Harvard, não traz respostas a essas perguntas, mas provoca o leitor a refletir sobre situações cotidianas onde a lógica do mercado se contrapõe à moral. Em quais circunstâncias devemos tolerar que a primeira prevaleça?
Essa discussão ilumina todos os exemplos do livro, organizado em cinco grandes capítulos: Furando a fila, Incentivos, Como o mercado descarta a moral, Mercados da vida e da morte e Direitos de nome.
Destaco a seguir exemplos que me chamaram muito atenção; o primeiro deles relacionado aos efeitos colaterais indesejados quando incentivos de mercado corroem os que não obedecem à sua lógica. Com o objetivo de diminuir os atrasos dos pais para buscarem seus filhos, creches israelenses estipularam uma multa para os mesmos. O resultado foi intrigante. Ao invés de diminuir, a incidência de atrasos aumentou. A implantação do pagamento em dinheiro alterou as regras na relação entre os pais e a creche. Se antes, os primeiros sentiam-se culpados por obrigarem os professores a esperar um tempo além do normal, e por conta disso esforçavam-se ao máximo para evitar essa situação, a introdução da multa fez com que os pais a encarassem como um serviço que a creche prestava em caso de atraso. A interpretação foi de que a multa era na verdade uma taxa que remuneraria os professores por uma atividade que anteriormente era um estorvo.
O autor destaca a fronteira tênue entre multa e taxa; enquanto a primeira denota uma desaprovação moral, a última é simplesmente um preço. No caso das creches israelenses, a multa se transformou em taxa, e o tiro saiu pela