O que e cultura
O gênero western ou far-west que na década de 1980, excetuando-se alguns poucos filmes que repercutiram, estava em franca decadência e descrédito, ganhou fôlego e vigor na nova roupagem introduzida pelo filme "Dança com Lobos". O politicamente incorreto que caracterizava as produções sobre o Velho Oeste americano, onde os vilões ganhavam status de celebridades, os xerifes tinham autorização para matar indiscriminadamente e os índios eram apresentados como selvagens a serem domados como os cavalos e búfalos das pradarias daquela região, foi substituído por um filme que trabalha com sensibilidade o encontro entre o mundo dos brancos e o universo dos índios.
O espírito do filme de Costner nos envia necessariamente para a carta enviada pelo Chefe Seattle ao presidente dos Estados Unidos, em 1850, como resposta a uma proposta de compra de suas terras. Nela transparecem as idéias de que somos como fios que compõem um tecido grandioso e que, como tal, dependemos dos outros fios assim como os outros dependem de nós para a composição do todo, da vida, da sobrevivência coletiva. Ele perguntava naquele documento se os brancos iriam tratar dos animais, das águas dos rios, da floresta e do ar como tratava seus irmãos ou seus pais. Antecipava o questionamento ecológico (globalmente organizado a partir de conferências realizadas no final dos anos 1960) em mais de 100 anos. Usava metáforas como "selvagens indígenas" e "cidades de pedra" para falar sobre civilização e progresso. Afinal de contas, quem era o civilizado nessa história?
Esse filme pode abrir debates sobre o choque